Evidência de reprodução assexuada no escorpião amarelo brasileiro

Partenogênese é uma forma de reprodução assexuada, ou seja, sem contato sexual, onde ocorre o desenvolvimento de novos indivíduos através de ovos que não foram fertilizados. Acontece em poucas espécies, mas pode ser encontrada em animais invertebrados e vertebrados. É um tipo de reprodução mais eficiente, pois não precisa da presença do sexo oposto e permite, mais facilmente a colonização de ambientes perturbados. Porém, a parternogênese tem seu ponto negativo, ela pode diminuir a variabilidade genética podendo levar a espécie à extinção. Em escorpiões, a primeira evidência de partenogênese veio de observações do Tityus serrulatus, o escorpião amarelo brasileiro, quando em uma população foi encontrado apenas fêmeas e nenhum macho. Estudos posteriores confirmaram a partenogênese nestes escorpiões através de isolamento de fêmeas em cativeiro, onde mesmo sem contato com o sexo oposto elas geravam descendentes. A partir daí, a partenogênese começou a ser considerada a única forma de reprodução destes animais, até descobrirem alguns machos em populações sexuadas de T. serrulatus no Brasil. A causa da partenogênese nesta espécie ainda é desconhecida.

Procurando entender melhor a reprodução assexuada no T. serrulatus os pesquisadores do Departamento de Zoologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade federal de Minas Gerais – UFMG fizeram um estudo analisando uma criação em cativeiro de fêmeas capturadas de uma população sexuada da cidade de Itacarambi em Minas Gerais. Eles coletaram 175 indivíduos da espécie, sendo 59 fêmeas adultas, 40 machos adultos e 75 juvenis. Estes animais foram identificados com números e colocados cada um em um recipiente de plástico. Quando as fêmeas adultas coletadas deram à luz, os filhotes delas foram separados de suas mães e cada um destes juvenis também foram mantidos em um recipiente individualizado e observados até a sua fase adulta e o nascimento de seus próprios filhotes.

Os resultados indicam que a reprodução assexuada nas populações sexuadas de escorpiões amarelos brasileiros é facultativa, eles podem ou não optar por este tipo de reprodução. Também sugere que a ausência de machos desencadeia a reprodução assexuada nas fêmeas já que a amostra coletada na população de Itacarambi demonstra que o número de fêmeas é bem maior que o número de machos. O estudo também verificou que, aparentemente, as duas formas de reprodução no escorpião amarelo podem ocorrer na mesma região, e que populações assexuadas são mais numerosas que populações sexuais, com alta predominância em ambientes perturbados, indicando que as condições ecológicas podem interferir na reprodução desta espécie.

Após a conclusão do estudo os espécimes que ainda estavam vivos foram fixados em etanol 80% e depositados no Centro de Coleções Taxonômicas da Universidade Federal de Minas Gerais. Muitas questões continuam abertas sobre a partenogênese nestes escorpiões: a taxa de fertilidade é igual nas fêmeas de reprodução sexuada e assexuada? Fêmeas de populações partenogenéticas copulam com machos de populações sexuais? Estas respostas facilitariam o entendimento da partenogênese na espécie, mas a confirmação de que este tipo de reprodução é facultativa em populações sexuais já é um passo para novas descobertas.

Fêmea T. serrulatus com prole. Imagem: Gracielle de Fátima Braga Pereira


Este boletim foi escrito com base no artigo disponível em: https://doi.org/10.1636/JoA-S-20-001


Autora: Natália Gonçalves Batista (bolsista de Extensão PBEXT-Ações Afirmativas, orientada pelo prof. João Renato Stehmann).


Este texto corresponde ao Boletim CCT Ciência nº 19, originalmente publicado em 2022 no site oficial do CCT Ciência: https://www2.icb.ufmg.br/cct/cctciencia/CCTCiencia-19.png


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