A leishmaniose é uma doença infecciosa, considerada uma zoonose, isto é, uma doença que pode ser transmitida de animais para humanos. É causada pelos protozoários do gênero Leishmania e transmitidos por um grupo de insetos hematófagos, denominados flebotomíneos. Os principais hospedeiros são humanos, cães e mamíferos silvestres.
Os fármacos mais utilizados hoje para o combate a doença são os antimoniais pentavalentes, o mecanismo de ação preciso dessas drogas ainda permanece incerto, mas, supõe-se que várias enzimas da Leishmania spp. sejam inibidas seletivamente, garantindo assim um efeito leishmanicida. Outras opções de tratamento são o fármaco anfotericina B, um antifúngico que é usado para tratar micoses; a pentamidina, que é um antiprotozoário utilizado para tratamento de pneumonia causada por Pneumocystis jirovecii; a miltefosina, medicamento utilizado no tratamento de leishmaniose e infecções por amebas de vida livre, é eficaz contra a leishmaniose cutânea, mucocutânea e visceral, permite a inibição do crescimento e provoca morte do parasita Leishmania spp.; a paromomicina, um antibiótico que inibe a síntese de proteínas das bactérias e também tem efeito contra amebíase intestinal.
Mesmo com essas possibilidades terapêuticas, a doença é considerada de difícil erradicação devido à resistência do protozoário à quimioterapia e ao alto custo dos medicamentos, que apresentam efeitos colaterais e toxicidade. Por esse motivo, a pesquisa de novos tratamentos tem sido uma busca constante dos cientistas. Uma nova frente promissora na luta contra a leishmaniose vem no estudo de fungos. Isso porque seus compostos bioativos, deles derivados, têm sido utilizados como base para medicamentos com diversas aplicações e esse potencial farmacológico promissor vêm despertando um interesse científico para tratamento de doenças infecciosas de importância na saúde pública, como a leishmaniose.
Num recente artigo, pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais, juntamente com pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas, realizaram uma revisão de estudos sobre a eficiência da atividade dos bioprodutos fúngicos como alternativa potencial para o tratamento da leishmaniose.
Foram encontrados 59 artigos diferentes sobre o assunto, o mais antigo do ano de 1997, e, 2018 foi o ano com o maior número de estudos sobre o tema, com 9 artigos publicados. 53 dos estudos foram realizados com análises in vitro (em ambiente fechado e controlado – normalmente em recipiente de vidro), dois deles in vivo (dentro de um organismo ou tecido vivo), e, 4 contendo análises in vitro e in vivo. Neste artigo, os autores da revisão catalogaram as espécies de fungos, os bioprodutos fúngicos (extrato/composto isolado) com atividade leishmanicida, a espécie de Leishmania e sua forma evolutiva (promastigota/amastigota) e a referência (nome do autor principal e ano da publicação). Ao todo 68 gêneros diferentes de fungos foram identificados nos artigos analisados e 84 diferentes compostos isolados foram relatados.
Essa revisão mostra o panorama das pesquisas sobre alternativas fúngicas terapêuticas para a leishmaniose e revela uma falta de estudos mais avançados para prosseguir as pesquisas para os ensaios clínicos devido à falta de investimento público e privado para combater doenças negligenciadas, como a leishmaniose.
A boa notícia é que as evidências encontradas nas publicações analisadas indicam o potencial farmacológico promissor dos bioprodutos fúngicos no tratamento da doença. Considerando a fantástica diversidade de fungos existentes no Brasil, grande parte ainda desconhecida e não descrita, nada mais oportuno do que estimular e fortalecer programas de pesquisa taxonômica e de bioprospecção de produtos naturais deles oriundos.
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Crescimento de fungos em placas de petri. Fotos: Graciéle de Menezes |
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