O menor tatu do Brasil está em risco de extinção

Uma das menores espécies de tatu, o tatu-bola-do-nordeste (Tolypeutes tricinctus), ou apenas tatu-bola, é um mamífero endêmico do Brasil, presente na Caatinga e em pequenas áreas do Cerrado. Destaca-se por se fechar como uma bola, devido à sua carapaça dura que contém três bandas móveis (daí o nome científico), permitindo seu enrolamento. Ao assumir essa forma, o tatu-bola protege as partes moles de seu corpo, como um escudo, impedindo que outros animais consigam se alimentar dele. Dificilmente você verá um tatu-bola de dia, pois ele tem hábito geralmente noturno, quando sai para se alimentar de insetos, como cupins, formigas e besouros. Ele cava suas próprias tocas ou utiliza tocas feitas por outros animais, mas também pode se esconder em terrenos ou se abrigar em locais com muitas folhas. Os machos são maiores do que as fêmeas, que são disputadas no período de acasalamento.  A gestação dura em média 120 dias, com o nascimento de um filhote por ninhada, raramente dois.

Hoje conhecemos melhor as espécies de tatus graças aos estudos das amostras tombadas nas coleções científicas. A Coleção de Mamíferos do Centro de Coleções Taxonômicas da Universidade Federal de Minas Gerais conta com 10 exemplares tatu-bola-do-nordeste, além de cerca de 100 espécimes de outras espécies de tatus, com disponibilidade de materiais para estudo como esqueleto, pele e carapaça. Os registros tombados no acervo permitem o mapeamento dos locais de ocorrência da espécie e fornecem informações fundamentais para o planejamento do estudo das populações em campo. 

Isso é importante pois o tatu-bola-do-nordeste é altamente sensível a mudanças do ambiente, fato que vem ocorrendo devido à perda de habitat, especialmente pela substituição da vegetação nativa por pasto e cultivos nas regiões onde ocorre. Essas mudanças na paisagem, aliadas à caça intensa e predatória para o consumo de sua carne e o crescente número de atropelamentos, colocam a espécie em risco de extinção. Na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas brasileira ela é apontada como Em Perigo, enquanto que na lista global, da União Internacional para a Conservação da Natureza, é classificada como Vulnerável. 

Mas, como proteger o tatu-bola-do nordeste? O primeiro passo é conhecer a espécie e o local em que ela vive. Esse animal ainda é pouco estudado e reconhecido, apesar de ser característico de um bioma brasileiro. Informações sobre ecologia e ameaças são fundamentais para uma avaliação adequada da situação de conservação de uma espécie e para a elaboração de estratégias satisfatórias de proteção. A Caatinga, único bioma exclusivamente brasileiro, conta com somente 7,8% de sua área protegida em Unidades de Conservação. Assim, ampliar as áreas protegidas e implementar projetos de educação ambiental com a comunidade e escolas são ações fundamentais para garantir a preservação dessa espécie endêmica tão carismática. 

Ilustração do tatu-bola (Tolypeutes tricinctus) Artista: Enaile D. Siffert.


Localidades registradas para o tatu-bola no nordeste do Brasil, desde 2000. Fonte: Feijó, A., Magalhães, R., Bocchiglieri, A., Cordeiro, J., Sena, L., & Attias, N. (2023). Defining priority areas for conservation of poorly known species: A case study of the endemic Brazilian three-banded armadillo. Cambridge Prisms: Extinction, 1, E2. https://doi.org/10.1017/ext.2022.2


Autora: Ana Clara Dumbá Silva (bolsista de Extensão PBEXT, orientada pelo prof. João Renato Stehmann).

Este texto corresponde ao Boletim CCT Ciência nº 25, originalmente publicado em 2023 no site oficial do CCT Ciência:  https://www2.icb.ufmg.br/cct/cctciencia/CCTCiencia-25.pdf





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