Tirando a biodiversidade da invisibilidade: doze novas espécies descritas em 2021

Os cientistas do Centro de Coleções Taxonômicas – ICB/UFMG contribuem anualmente para a descrição de novas espécies através das suas pesquisas. Só no ano de 2021 eles descreveram 12 novas espécies, incluindo plantas, ácaros, anfíbios e fungos. Os métodos utilizados incluíram a observação das características morfológicas, a localização e habitat, bem como a análise de sequências de DNA. Os pesquisadores confirmaram que as espécies não haviam sido descritas ainda e, seguindo as regras nomenclaturais, publicaram as novidades taxonômicas. 

Entre as plantas descobertas estão duas espécies da família Solanaceae (da batata e do tomate) da Mata Atlântica. Athenaea altoserranae que recebeu este nome em referência ao local onde foi encontrada, a Serra do Mar no estado de São Paulo; já A. hunzikeriana, do nordeste de Minas Gerais e sul da Bahia, homenageia um botânico argentino, já falecido. Outra espécie da mesma família descrita, foi Schwenckia aurantiaca, uma erva anual que habita áreas sazonalmente alagadas sobre calcário no norte de Minas Gerais e que já nasceu criticamente ameaçada de extinção. Medidas de proteção são urgentes para salvá-­la.

Já a equipe que estuda ácaros (carrapatos), utilizou a observação das características morfológicas de juvenis e adultos para descrever quatro novas espécies. Análises filogenéticas moleculares e comparações morfológicas indicaram que uma das espécies pertencia a um novo gênero, Chiasmanyssus, a nova espécie, C. cavernícola, assim nominada por ter sido encontrada em cavernas dos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Pará. Duas outras espécies foram descritas a partir de exemplares obtidos em São Paulo e Minas gerais, em um trabalho que utilizou o cultivo em laboratório de fêmeas para a obtenção de juvenis do gênero Trichosmaris. Também incluindo exemplares obtidos em cavernas, foi descrita uma nova espécie do gênero Usoseius e a primeira ocorrência de uma espécie anteriormente conhecida da Bahia pertencente ao gênero Oplitis para o estado de Minas Gerais.

Uma nova espécie de sapo-­anão, Physalaemus araxa, foi descrita para um local inusitado, os campos de altitude do Parque Nacional do Caparaó, onde se localiza o pico mais alto da Mata Atlântica. A espécie possui distribuição bastante restrita, habitando um local de condições extremas, motivo pelo qual foi avaliada como ameaçada de extinção. Um ótimo indicador da incompletude do conhecimento da biodiversidade brasileira e exemplo de como áreas inexploradas ou de difícil acesso podem revelar surpresas taxonômicas.

As análises das sequências genômicas foram o principal método de avaliação para reconhecer três novas espécies de leveduras da biodiversidade brasileira: Wickerhamiella martinezcruziae, Phaffia brasiliana, que é uma levedura com pigmentos laranja e produtora do pigmento astaxantina, e Cyberlindnera dasilvae, outra levedura capaz de converter xilose em xilitol, um adoçante natural. As duas últimas espécies possuem alto potencial para futuras aplicações biotecnológicas. 

Phaffia brasiliana. Imagem: Carlos Augusto Rosa


Autora: Natália Gonçalves Batista (bolsista de Extensão PBEXT-Ações Afirmativas, orientada pelo prof. João Renato Stehmann).


Este texto corresponde ao Boletim CCT Ciência nº 17, originalmente publicado em 2022 no site oficial do CCT Ciência: https://www2.icb.ufmg.br/cct/cctciencia/CCTCiencia-17.png


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