Você sabe como novas espécies são descritas?

Para nominar os organismos, utilizamos até hoje o sistema binomial criado por Lineu no século XVIII. Estima-se que, desde então, 1,2 milhão de espécies já foram descritas pelos taxonomistas em todo o mundo. Atualmente, aproximadamente 19 a 19 mil espécies são descritas todos os anos, um número pequeno quando relacionado ao número estimado de espécies existentes, porém relativamente grande em função dos poucos cientistas com experiência taxonômica. Essa diferença entre o número de espécies conhecidas e o número de espécies existentes é chamado de "déficit Lineano", que ainda é gigantesco.

Mas como as espécies são descritas? As novas espécies são apresentadas a comunidade científica em artigos científicos, onde o novo táxon é batizado (receberá um nome inédito), caracterizado (com uma descrição morfológica ou genética, dependendo do organismo) e comparado com outros organismos próximos. Ainda, é obrigatória a citação das amostras analisadas depositadas em coleções taxonômicas (tipos nomenclaturais), para que elas estejam acessíveis a outros pesquisadores. Os dados moleculares vão alimentar os bancos genéticos, atualmente imprescindíveis para estudos evolutivos. 

O batismo segue as regras nomenclaturais internacionais, sendo o nome latinizado, independente da sua origem. Geralmente são utilizados nomes que refletem a morfologia, a geografia ou a ecologia o organismo, mas às vezes homenageiam-se pessoas, como o coletor, um pesquisador conhecido ou até mesmo celebridades do mundo contemporâneo. 

Muitas espécies novas já foram coletadas e estão depositadas nos acervos taxonômicos, aguardando a visita do pesquisador, algo que pode demorar anos. Outras vezes não, podem ser espécies endêmicas de áreas pouco coletadas, não havendo ainda exemplares disponíveis para estudo. Logo, para descobrir novas espécies é preciso revisar os acervos existentes e realizar amostragens em regiões onde há lacunas de coletas, que são muitas no planeta!

Em síntese, para descrever uma espécie nova é preciso ter acesso às amostras depositadas nas coleções taxonômicas, correr chaves de identificação e realizar análises comparativas morfológicas, anatômicas, químicas e moleculares. Dependendo do organismo, muita microscopia é envolvida. Não é, portanto, um trabalho fácil. Por isso, ao ler um nome científico, pense na história que cada um carrega. Resgatar essa memória é fascinante!

Lineu (1707-1778), pai da nomenclatura binomial


Autora: Milena Ferreira (bolsista de Extensão PBEXT, orientada pelo prof. João Renato Stehmann).


Este texto corresponde ao Boletim CCT Ciência nº 16, originalmente publicado em 2022 no site oficial do CCT Ciência: https://www2.icb.ufmg.br/cct/cctciencia/CCTCiencia-16.png


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