As coleções taxonômicas ou biológicas são bibliotecas da biodiversidade, guardando informações sobre as espécies que habitam nosso planeta, quem são e onde vivem, e que fornecem dados sobre variações na morfologia, ecologia, genética e geografia dos indivíduos. Além disso, é possível utilizar os registros de ocorrência para mapear e modelar a distribuição geográfica das espécies e prever os impactos que as mudanças climáticas trarão, podendo levar muitas à extinção, ou então à expansão de espécies exóticas invasoras, ambos graves problemas contemporâneos.
Ao atuarem como bibliotecas, necessitam estar organizadas de maneira simplificada para facilitar a localização dos seus espécimes e a utilização dos seus dados, que devem estar acessíveis aos usuários. O espécime preservado pode ser reanalisado ao longo do tempo, fornecendo novos dados à medida que novas tecnologias são desenvolvidas. Para isso as coleções taxonômicas utilizam protocolos específicos de coleta e salvaguarda, que variam de acordo com os grupos taxonômicos, mas que permitem geralmente a sua conservação indefinida e o estudo continuado das amostras.
Nesse cenário, a pesquisa é a principal beneficiária de uma coleção biológica, pois diversos trabalhos científicos necessitam que a espécie analisada seja depositada em uma coleção biológica como material testemunho e/ou para permitir que novas pesquisas sejam realizadas com o modelo estudado. Os materiais coletados e armazenados em uma coleção devem seguir princípios éticos e legais de acordo com a legislação brasileira e os órgãos competentes, como o Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (CONCEA), Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (IBAMA), o Instituto Chico Mendes (ICMBio) e o Instituto Estadual de Florestas (IEF) em Minas Gerais.
No entanto, no que tange à manutenção e à organização, as coleções taxonômicas enfrentam inúmeras dificuldades que comprometem sua preservação, atualização e acesso. Isso decorre devido à infraestrutura precária de muitas delas e à falta de recursos humanos e financeiros para a gestão adequada dos acervos. Isso é particularmente acentuado nos acervos científicos universitários, como os do CCT-UFMG, que estão vinculados ao Ministério da Educação (MEC), para os quais não há políticas e planos estratégicos vigentes. Para superar parcialmente essas dificuldades, as coleções científicas ofertam serviços, que captam recursos de empresas de consultoria ambiental para depósito e identificação de amostras oriundas de projetos de pesquisa e licenciamento. Longe de resolver esses problemas, tais iniciativas amenizam o problema e permitem, mesmo que precária, a conservação dos acervos.
Desde a virada do milênio, iniciativas para acelerar a disponibilização de informações sobre a biodiversidade vem sendo implementadas, com destaque para o GBIF (the Global Biodiversity Information Facility) na esfera internacional, o SiBBR (Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira) e a rede speciesLink (do Centro de Referência em Infomação Ambientail), na nacional. Este último albergando redes colaborativas e disponibilizando milhões de dados na sua plataforma (https://specieslink.net). A maioria das coleções biológicas brasileiras, contudo, continua fora dessas bases, evidenciando um descompasso enorme no processo de digitalização pela ausência de uma política e fomento específicos para esse fim. A situação das coleções do CCT-UFMG reflete, em maior ou menor grau, a realidade nacional, com coleções quase totalmente digitalizadas e outras sem qualquer avanço nesta iniciativa.
A governança e gestão dos acervos biológicos universitários brasileiros é um grave problema que ameaça a preservação do rico patrimônio de amostras existente, construído ao longo de anos de investimentos em pesquisa, e que só não é mais grave graças à dedicação e esforço das curadorias dos acervos, que captam recursos externos para sua manutenção.
Nesse sentido, é muito importante falarmos da imprescindibilidade das coleções taxonômicas, da situação precária atual e da necessidade de investimentos, sem os quais esse patrimônio não poderá ser preservado para as gerações futuras.
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Coleção de Mamíferos do CCT-UFMG. Fotos: Leonardo Marujo |
Autoras: Ana Clara Dumbá Silva (bolsista de Extensão PBEXT, orientada pelo prof. João Renato Stehmann); Natália Gonçalves Batista (bolsista de Extensão PBEXT-Ações Afirmativas, orientada pelo prof. João Renato Stehmann).
Este texto corresponde ao Boletim CCT Ciência nº 27, originalmente publicado em 2024 no site oficial do CCT Ciência: https://www2.icb.ufmg.br/cct/cctciencia/CCTCiencia-27.pdf
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